Uma carta de cerveja para o Rock in Rio

Por Marcelo Dunlop

No Rio de Janeiro, quem faz por merecer e se consagra, das duas uma: ou ganha estátua, ou vira prato no cardápio.

O espaguete do Ziraldo. O suco de cupuaçu do João Donato. O ravioli da Paolla Oliveira. E até o sanduíche Pedro Bial – criador de uma iguaria feita com pão francês, ovo mexido e quadradinho de queijo derretido.

Nas melhores cantinas da cidade, há quem peça o macarrão do Chico. O Buarque, claro. Trata-se de um penne com camarões médios, num cremoso molho de abobrinha e açafrão. Salivou?

A moda vem de longe, ao menos desde o glorioso La Fiorentina, fundado no Leme em 1958, hoje em Ipanema. Por lá se pede os bolinhos de bacalhau do Zuenir, a salada Camila Pitanga, o filé do Léo Jaime e (nham) o petit gateau do Jô.

Maravilha, mas e o chope? Nada. Nos mesmos cardápios analisados, a sagrada bebida de cevada e lúpulo nunca têm direito a nome e sobrenome. Ah, chope é sempre igual, diriam os hereges. Bem, só no Brewteco Gávea há 36 argumentos em contrário, nas variadas torneiras que brotam da parede.

Com a cidade e os bares cheios para o Rock in Rio, não seria a ocasião perfeita para uma carta dedicada aos astros e estrelas, nacionais e internacionais? Um modo óbvio seria abrir o cardápio com um rei:

“Chope à Elvis Presley:
Colarinho alto, na pressão. Ao bebericar, faça beicinho sexy e sussurre: ‘Don’t be cruel’…”

Não, não. Já sei: salta um Garotinho à Nelson Ned! Terrível, esquece. O jeito é apurar com os mestres cervejeiros, mergulhar no assunto e assim, tentar criar uma carta de cerveja sofisticada, que homenageie as grandes estrelas e nossos bons bebedores.

Talvez algo assim:

* Chope à Beyoncé
Uma Ipa, a rainha das cervejas, servida numa caldereta simples, de cristal de quartzo rosa. Acompanha uma cesta de amoras, 108 guardanapos de linho egípcio e um chef da culinária tailandesa disponível em tempo integral.

* Cerva do Chico Science
Pilsen. Pedir antes do almoço – para ficar pensando melhor…

* Cervejinha Cindy Lager
Refrescante. Ideal para garotas que só querem se divertir.

* Birita do Jaguar
O escritor e desenhista carioca é um defensor do chope clássico: duplo, com três dedos de espuma – nem mais nem menos. Para Jaguar, que já bebeu com metade dos músicos brasileiros, o chope perfeito vem com aquele colarinho cremoso: “Você espeta um palito e ele fica em pé, sem afundar”. Acompanha um Underberg.

* Chope à Loredano
Historiador e caricaturista, Loredano cultiva um modo peculiar de tomar chope. Com o guardanapo de papel por cima, de modo a tapar o copo. Ele explica o hábito: “Não temo perdigotos. O problema é uma mosca de estimação, que trago comigo a todo bar que eu vou. Olha ela ali!”

* Artesanal da Luísa Sonza
Acompanha uma purinha. Braba. Para degustar sentadona, e dar nocaute em qualquer um.

* Chope do Milton Nascimento
Artesanal fina, mineira. Servida, claro, num cálice.

* Canecão do Moraes Moreira
O saudoso vizinho do Brew Gávea, astro do Rock in Rio 1, merece um half-half, em nome de sua paixão por Zico e o Flamengo. Servir o malte vermelho até a metade, com a caneca num ângulo de 45 graus. Com o copo normal, vire o chope preto devagar sobre uma colher virada. Deixe o copo descansar por cinco segundos, para firmar o chope rubro-negro. Brinde aos urros de “Mengô!”

* Chope à Noel Rosa
O sambista da Vila volta e meia era flagrado no bar pela manhã, com um copo de cevada e outro de vermute. Se os amigos chiavam que ele não estava comendo nada, o magrinho rebatia. Ué, cerveja é uma poção à base de grãos, vegetais e cereais, rica em carboidratos, proteínas, vitaminas e aminoácidos, capazes de saciar qualquer um. “Oras, e o vermute?” Noel: “Ah, é que eu não resisto a um drinque nas refeições…”

* Cerveja Ozzy Osbourne
Fabricada por silenciosos monges trapistas.

* Chope do Pagodinho
O ídolo Zeca não bebe cerveja morna nem por decreto, por isso opta por copos de geleia:
“Quem toma cerveja quente é a planta. Ou derramo para São Jorge.” Desça um em homenagem ao sábio de Xerém e ganhe um vaso de arruda para despejar seu restinho.
Saravá!

* Chopada Ramones
O garçom chega com a bandeja, você berra “One, two, three, four”, a turma bebe.

* Cerveja à Rita Lee
Red ale, num discreto copo tom de rosa-choque. Beba cinco, com uma turma do barulho. Ao sair, capriche na gorjeta e no bilhetinho: “Desculpe o auê”.

* Caldereta à Silvio Santos
Reparou que o linguajar popular comeu (ou bebeu) o “i” de caldereta? Seja como for, o comunicador que começou a vender tralhas ali pela Lapa, onde hoje há um Brew, merece um chope em seu tributo, para beber com os colegas de trabalho. Alerta: em excesso, a bebida pode fazer você contar piadas com bambu. Se insistir, o bebedor periga botar a mão na carteira e berrar: “Quem quer dinheiroooô?”

* Nitro do Will Smith
Mistura explosiva de três maltes. Tiro, porrada e bomba. Você bebe um copo e anuncia à mesa: “Eu sou a lenda!”

* Chopinho Taylor Swift
Frutado, servido em copo flauta. É tomar uns e começar a contar poucas e boas do ex.

* Tulipa à Ruiz
Etc.

E para você, que estrela ou grande figura merecia ser homenageada nos bares?