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GOSTINHO BRASILEIRO

Cada apaixonado por cerveja certamente tem a sua escola cervejeira favorita. Seja a alemã, a belga ou a inglesa, cada tipo de bebida fermentada é debatida nas mesas de bar, com discussões clubistas e calorosas – e intermináveis – que buscam delegar o título de superior à sua predileta.

Contudo, sempre que os frequentadores assíduos de bar se debruçam diante de tal questionamento implacável da vida botequeira é deixada de lado, nessa discussão, a produção de fermentados tupiniquim.

Sabe-se de cor e salteado que a cerveja americana é excêntrica, que a inglesa é de alta fermentação e que a belga dá o próprio terroir – expressão emprestada dos nossos colegas aficionados dos vinhos – com muitas especiarias. Mas e a brasileira? Qual característica única e autóctone nossa escola cervejeira como um todo apresenta? Será que tem alguma?

É justamente sobre isso que o Projeto Manipueira busca. O verdadeiro terroir brasileiro. Como? Ensinando e incentivando empresas brasileiras a utilizarem a microflora brasileira e local para fermentar cervejas.

A ideia desta iniciativa é fruto da parceria entre as cervejarias Cozalinda (Florianópolis – SC) e Zalaz (Paraisópolis – MG). Coletando a manipueira, caldo da mandioca brava, fermenta-se e, como resultado, o famoso tucupi é obtido. A partir da microflora da manipueira as cervejarias poderão alimentar o seu próprio consórcio de leveduras e microrganismos selvagens para utilizá-lo na fermentação de cervejas únicas

De acordo com um dos líderes do projeto, Diego Rzatki, a mandioca foi escolhida justamente por ser uma fonte de microorganismos comum em todo o Brasil.

A audaciosa iniciativa de ser pioneiro na exploração do terroir brasileiro chamou inclusive a atenção da Abracerva – Associação Brasileira de Cervejas Artesanais – que já sinalizou incentivo.

No total, 22 fábricas de 10 estados brasileiros já começaram a produção. Isso significa uma oportunidade de ouro para nos consagrarmos como uma escola cervejeira independente. Agora, nos bares e botequins, o papo vai ser diferente. Dessa vez, a cerveja artesanal brasileira, talvez seja elevada ao patamar das já consagradas. Só sei de uma coisa: se a mandioca não tiver no nosso copo, certamente estará em nosso prato, frita, e acompanhada de uma tradicional carne seca.