Os super-heróis dos botequins

Por Marcelo Dunlop

– Hey leadership! Jump one more little chicken thigh? And a stupidly cold beer!

Se os pedidos foram feitos assim, bem à moda carioca, não se sabe. Mas ninguém parecia mais alegre do que os turistas Hugh Jackman, Ryan Reynolds, Emma Corrin e Shawn Levy, em seus rodopios pela Cidade Maravilhosa, com direito a pontapés na bola no Maracanã.

Após a visita ao estádio em julho, com direito a tabelinha com craques do Flamengo, os astros do filme “Deadpool & Wolverine” degustaram pastéis de costela, dadinhos de tapioca e coxinha de galinha. Tudo regado a cerveja gelada, que ninguém ali é homem de ferro.

A farra de Wolverine & cia no botequim, em certo terraço com vista para a praça da Gávea, leva os mais nostálgicos a recordar de outros grandes heróis dos bares do Rio.

Ou você nunca ouviu falar do Cabeça, garçom do Jangadeiros com sua voz de trovão? Ou do Beto da Adega Pérola, cuja identidade secreta é Homem-Polvo? O cearense, acostumado a servir sozinho o bar lotado, tem o superpoder de transitar, sem perder o sorriso, com uma bandeja capaz de trazer cinco chopes, meia dúzia de ostras, três cachacinhas, porção de bolinho de bacalhau e, claro, uma cestinha de pães. E o Juninho do Jobi, com seus poderes telepáticos? Sem falar no Berg, claro, bicho forte para cacete que parece o Multi-Homem, capaz de criar múltiplas cópias de si mesmo e aparecer, puf, do seu lado.

Mas raros foram os heróis de gravatinha que tiveram seus super poderes reconhecidos. A exceção? O Maia, lendário garçom do Café Lamas, flagrado um dia pelo cartunista e escritor Jaguar, em episódio eternizado no livro “Confesso que bebi”. O faixa-vermelha dos boêmios estava presente no exato dia em que o Maia “pisou numa casca de banana – na parte da frente do Lamas vendiam-se frutas – e caiu estatelado, de pernas para o alto, mas sem derramar um só copo da bandeja. O bar aplaudiu de pé a performance, fui um dos primeiros a puxar as palmas.” Graaande Maia!

No fundo, como se vê, a diferença principal entre os heróis dos bares e os Deadpools do cinema é singela: os nossos, daqui, salvam o dia sempre com um sorriso no rosto. E não têm inimigos, só aliados.